sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FALANDO SOBRE A MORTE

Falando sobre a morte com as crianças

Algo inevitável, mas difícil de aceitar. A morte é, principalmente para a cultura ocidental, o fim da linha. Um fato extremamente sofrido e triste que, para os cristãos, representa o encontro com Deus e a plenitude no dia do juízo final. Já para algumas filosofias ou religiões orientais e européias, como o espiritismo, a morte é alentadora para a pessoa que vai embora para outro “plano” ou “freqüência”, já que o espírito deve evoluir moralmente. Porém, isso não quer dizer que as pessoas ligadas a essas filosofias não sofram com a perda e a saudade, independente de qualquer crença.

Talvez o principal desafio no caso da perda de um ente querido seja entender o porquê da morte. E para as crianças, que ainda estão com a personalidade em formação e não compreendem a realidade tanto como os adultos, pode ser muito mais difícil. Mas qual seria a “fórmula” para falar do assunto com elas? Os especialistas são unânimes em pelo menos um ponto: nunca se deve esconder a morte de uma criança, seja de quem for.

A psicóloga clínica e psicanalista Rosecler Schmitz, que trabalha voluntariamente no grupo Amigos Solidários na Dor do Luto (de Curitiba), explica que, independente da idade da criança, nunca se deve omitir a morte de alguém ou inventar histórias, como, por exemplo, “ele viajou e um dia volta”, “Deus levou” ou, ainda, “ele virou uma estrelinha”. “Sempre temos que esclarecer, desde a primeira infância. E responder às questões que a criança fizer de maneira clara, objetiva, sem se estender muito, pois ela vai entender. A criança tem as mesmas emoções dos adultos, só que a maneira de expressar é diferente. E ela precisa viver suas emoções, isso é inerente ao ser humano”, disse a psicóloga.

Rosecler explica que a criança vai entender a morte de acordo com a sua faixa etária. Aquelas que são muito pequenas, com até três anos de idade, ainda não a entendem com muita clareza. “Elas já percebem as emoções, mas não têm idéia do abstrato”, orienta. Já a partir dos dois anos de idade, a criança possui pensamentos mágicos, imagina muitas coisas. “Nessa idade, ela pode até não entender muito bem o que é a morte, mas já percebe a ocorrência. Muitas vezes os pais escondem as emoções, mas não adianta, pois elas sentem. Nessa fase os pais podem comparar a morte com o mesmo fato que acontece com um animal ou até uma plantinha”, disse. Dos três aos cinco anos de idade, segundo a psicóloga, a criança começa a personificar o fato e os pais podem associá-lo aos contos infantis. “Normalmente elas assimilam muito bem as histórias infantis”, afirmou.

A partir dos nove ou dez anos, a criança está em um ritmo de desenvolvimento maior e já percebe com clareza que ela também vai morrer um dia. Dos 11 aos 12 anos, ela está convicta disso e já entende o fenômeno, diz Rosecler. “Temos que dizer, com todas as letras, que tal pessoa morreu. E a criança vai construir seu conceito de morte imaginariamente. Ela precisa aprender a lidar com as perdas e os ganhos, constantes na vida”, orienta.

Pais mostram consolo na religião

Os especialistas orientam a maneira mais correta de explicar para uma criança o que é a morte. Porém, pais que vivenciaram a situação na pele contam o que deu certo com seus filhos. Experiências que podem ser bons exemplos para quem não sabe o que fazer com a presença de uma criança em uma hora tão triste.

A advogada e jornalista Marly Garcia tem um filho com 14 anos de idade, o Yuri. O menino passou por três situações de morte na família, de pessoas bem próximas. Segundo Marly, como a família possui formação espírita, não foi difícil explicar para Yuri, desde muito cedo, o porquê da morte. “Ele conviveu muito tempo com a minha mãe doente e eu dizia a ele, abertamente, que ela iria morrer logo. No dia do enterro, quando ele olhava atentamente a sepultura, eu disse que o espírito continuaria vivendo”, conta.

E parece que a atitude de Marly deu muito certo, pois Yuri se mostra muito tranqüilo com relação à morte. “Vai acontecer com todo mundo um dia. Saudades eu sinto, mas tento não pensar muito nisso”, disse o garoto.

Já a pedagoga Rajah Chaim, que tem três filhos (Gabriel, com 14 anos, Mariana, 12, e Emanoel, dez), diz que nunca levou os filhos aos sepultamentos. As crianças perderam o avô há três anos e, para Rajah, o que realmente é necessário é passar uma mensagem de paz para elas. “Digo a elas que há um ponto na vida da gente que vamos morrer, seja por problemas de saúde ou por uma fatalidade. Mas digo também que isso não é terrível para quem se foi, que ela vai se encontrar com Deus e com os anjos e vai continuar ajudando a gente a ter boas atitudes. Também explico que é importante que nós procuremos fazer o melhor por quem ficou aqui, sentir saudade de quem se foi, e não tristeza.”

Fonte: Paraná Online

Créditos: Ana http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com


Nenhum comentário: